ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DA DÉCIMA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA EXTRAORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 24. 12.1991.
Aos vinte e quatro dias do mês de dezembro do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Segunda Sessão Ordinária da Décima Quinta Sessão Legislativa Extraordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas foi realizada a chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adroaldo Correa, Airto Ferronato, Antonio Hohlfeldt, Artur Zanella, Clóvis Ilgenfritz, Cyro Martini, Décio Schauren, Dilamar Machado, Edi Morelli, Elói Guimarães, Ervino Besson, Gert Schinke, Giovani Gregol, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, João Dib, João Motta, José Alvarenga, José Valdir, Lauro Hagemann, Leão de Medeiros, Letícia Arruda, Luiz Braz, Luiz Machado, Mano José, Nelson Castan, Nereu D'Ávila, Omar Ferri, Vicente Dutra, Wilson Santos, Vieira da Cunha, Wilton Araújo e João Bosco. Constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata Declaratória da Sessão de Instalação e da Ata da Sessão de Instalação da Décima Quinta Sessão Legislativa Extraordinária, as quais foram aprovadas. À MESA foram encaminhados: pelo Vereador Artur Zanella, 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 274/91 (Processo nº 3173/91); 03 Projetos de Resolução nºs 61, 63 e 64/91 (Processos nºs 3175, 3177 e 3178/91, respectivamente); pelo Vereador Clóvis Ilgenfritz, 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 275/91 (Processo nº 3192/91). Do EXPEDIENTE constou o Ofício nº 269/91, do Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre. Às quatorze horas e quarenta e três minutos, os trabalhos foram suspensos, nos termos regimentais, sendo reabertos, constatada a existência de “quorum”, às quatorze horas e quarenta e sete minutos, e sendo iniciada a ORDEM DO DIA. Em Discussão Geral e Votação Nominal foi aprovado o Projeto de Lei do Legislativo nº 198/91 e rejeitado o Veto Total a ele aposto, por dezenove Votos SIM contra treze Votos NÃO, após ter sido discutido pelos Vereadores Lauro Hagemann, Adroaldo Correa, Isaac Ainhorn, Airto Ferronato, José Valdir, Wilson Santos, Omar Ferri, Giovani Gregol, Luiz Machado, Vieira da Cunha e Gert Schinke e encaminhado à votação pelos Vereadores Artur Zanella, José Valdir, Vicente Dutra e Airto Ferronato, tendo votado Sim os Vereadores Artur Zanella, Cyro Martini, Dilamar Machado, Edi Morelli, Elói Guimarães, Ervino Besson, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, João Dib, Leão de Medeiros, Letícia Arruda, Mano José, Nelson Castan, Nereu D'Ávila, Vicente Dutra, Wilson Santos, Wilton Araújo, João Bosco e Luiz Braz e tendo votado Não os Vereadores Airto Ferronato, Antonio Hohlfeldt, Décio Schauren, Gert Schinke, Giovani Gregol, João Motta, José Alvarenga, José Valdir, Lauro Hagemann, Leão de Medeiros, Omar Ferri, Adroaldo Correa e Vieira da Cunha. Ainda, foram apregoados Requerimentos do Vereador Ervino Besson, solicitando a renovação da votação do Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 29/91; do Vereador Artur Zanella, solicitando a constituição de uma Comissão Externa para acompanhar questões referentes à liberação, pelo Governo do Estado, de documentos relativos ao Município de Porto Alegre. Às dezesseis horas e quarenta e um minutos, foram suspensos os trabalhos, nos termos regimentais, sendo reabertos às dezesseis horas e quarenta e oito minutos. Na ocasião, os Vereadores Nereu D'Ávila, João Dib, Luiz Braz, Adroaldo Correa e Lauro Hagemann, em nome de suas Bancadas, desejaram um Feliz Natal aos funcionários e parlamentares presentes. Às dezesseis horas e cinqüenta e dois minutos, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima quinta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt, Airto Ferronato e Omar Ferri e secretariados pelo Vereador Leão de Medeiros. Do que eu, Leão de Medeiros, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Antonio
Hohlfeldt): Há
“quorum”.
Apregoamos Requerimento do Ver. Ervino Besson, que requer que, após os
trâmites regimentais, seja ouvido o Plenário sobre a renovação da votação do
Proc. nº 1500/91, PLCL nº 029/91, art. 8º, § único, quanto à expressão
“centralizado”, conforme ampara o art. 120 do Regimento Interno. Temos um total
de dezoito assinaturas apostas ao Requerimento.
A seguir, havendo “quorum”, passamos à
DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO
PROC. Nº 2371/91 – VETO TOTAL ao PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 198/91, de autoria do Ver. Isaac
Ainhorn, que faculta o funcionamento do comércio aos domingos que antecedem
datas festivas tradicionais no Município de Porto Alegre, altera a Lei nº
6.721, de 21 de novembro de 1990, e dá outras providências.
O SR. PRESIDENTE: Em discussão. (Pausa.) Para
discutir, está com a palavra o Ver. Lauro Hagemann.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, muito pouca coisa de novo se poderá dizer sobre esse processo, mas
sempre é bom lembrar algumas para que não fiquem esquecidas. Todos os que estão
aqui recordam da intensa discussão que se travou quando se discutiu e se votou
este Projeto. Os argumentos evoluíram. Houve ações judiciais que foram ora
deferidas, ora indeferidas pela Justiça, mas permanece ainda uma questão de pé,
que para esta Casa é muito importante: que as partes em litígio encontrem um
denominador comum através do processo mais consentâneo com a realidade, que é o
estabelecimento através de uma convenção coletiva da possibilidade de abertura
do comércio aos domingos para quem queira fazê-lo. Eu continuo achando que o
art. 1º da lei aprovada por esta Casa continua sendo inorgânico, porque diz que
os estabelecimentos comerciais de qualquer natureza, localizados na Cidade de
Porto Alegre, ficam com o horário de funcionamento livre, inclusive aos
domingos, observada as legislações federal e estadual. Ora, a Lei Orgânica, no
seu art. 9º, no inciso 12, diz: “Compete ao Município, no exercício da sua
autonomia, ordenar as atividades urbanas, fixando condições e horários para
atendimento ao público e estabelecimentos bancários”, já não mais industriais,
comerciais e similares, “observadas as normas federais e estaduais
pertinentes”. Fixar condições e horário para atendimento ao público compete ao
Município. Depois da aprovação da lei, tivemos a entrada em juízo de um mandado
de segurança coletivo, preventivo, por parte do Dr. José Francisco da Silveira.
A liminar foi negada, mas o mérito ainda não foi julgado. Posteriormente a
isso, o CDL e o Sindicato dos Lojistas entraram com uma ação na Justiça para
permitir a abertura do comércio no domingo que passou. O Juiz Carlos Roberto L.
Canibal, da 4ª Vara da Fazenda Pública, indeferiu o pedido de liminar impetrado
pelo Sindicato, e as lojas não funcionaram no domingo que passou. Afora isso,
temos aqui uma peça de extraordinária clarividência da Associação da Nova
Azenha e da Associação da Nova Voluntários da Pátria, em que ambas as entidades
arrolam argumentos preciosos não para que se abra ou se feche o comércio aos
domingos, mas para que essa questão seja aprofundada. Diz um documento em seus
variados itens - eu vou ler dois apenas que me impressionaram: “o processo
recessivo inflacionário migra desmedidas rendas ao setor financeiro, que,
agindo por baixo e por cima, sanfona a economia ao seu gosto e modo”. Isso diz
o item 2. O item 12 diz o seguinte: “a anemia do nosso mercado interno provém
da falta de renda salarial e do desemprego, jamais da falta de tempo para
comprar”. Sim, isso é o que se pode chamar de óbvio ululante. Depois, essas
duas entidades oferecem um projeto alternativo. A tudo isso se somam interesses
muito específicos de certos setores de “shopping” da Cidade, que pretendem
manter os seus “shopping” abertos a pretexto de incrementar o turismo, de
aumentar o nível de emprego e todas essas lantejoulas que oferecem como
alternativa para que os comerciários passem a trabalhar aos domingos e feriados.
Nós continuamos participando da idéia de que, dadas às circunstâncias do mundo
de hoje, é possível que se abra o comércio aos domingos e feriados desde que
sejam garantidas, minimamente, as condições salariais e empregatícias de quem
vai se sacrificar nesses dias.
A enquete, ou o famoso inquérito que o Ibope fez na Cidade, perguntava
quem queria o comércio aberto. Ora, ninguém é contra o comércio aberto. Todos
querem. Só não se perguntou quem quer trabalhar aos domingos. Então, acho que a
resposta seria um pouco diferente.
Por tudo isso, Srs. Vereadores, não vou pretender, com esse discurso,
modificar a opinião já mais ou menos assente dos Srs. Vereadores no Plenário.
Apenas ponderaria, fraternalmente, que a Casa refletisse muito seriamente a
respeito do passo que vai dar, porque agora não se trata mais de um veto do Sr.
Prefeito, de impedir ou não a abertura do comércio aos domingos. Trata-se de
remeter a um foro diferente do que seja a Prefeitura de Porto Alegre. Só quero
ponderar à Casa o desgaste que, talvez, uma decisão errada nos traga. Mais uma
vez pondero, com toda a fraternidade, para que a Casa não se ponha mais uma vez
na condição de ter que expiar mais tarde um gesto impensado, como várias vezes
já aconteceu. A Câmara de Porto Alegre, com mais de duzentos anos de atividade,
não merece o tratamento que às vezes uma maioria eventual lhe dá num
encaminhamento errado. Por isso eu continuo mantendo a minha posição. Vou
aceitar o Veto do Sr. Prefeito, com a recomendação - me parece que esse era o
recado que ele quis dar - de remeter-se a questão a um outro fórum em que as
duas partes em litígio cheguem a um entendimento através da convenção coletiva.
Então, esta Casa, o Município de Porto Alegre poderá homologar essa decisão
para o benefício da coletividade como um todo e não só de uma parte. Obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O próximo inscrito é o Ver.
Adroaldo Corrêa, que está com a palavra.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, comerciários e comerciárias presentes a esta Sessão, temos também o
intuito de firmar uma posição, que já é conhecida, e apresentar algumas razões
suplementares, dada a natureza do que se examina, que é um veto do Executivo a
uma lei aprovada nesta Câmara de Vereadores, que teve a nossa contrariedade na
aprovação. Primeiro gostaríamos de salientar que é da natureza das leis
atribuírem ao Município autonomia em alguns espaços, e espaços restritos, e o
Município está abdicando, no art. 1º desta lei, de atuar, objetivamente,
naquilo que é uma das suas prerrogativas; segue, portanto, a lógica da
desregulamentação da economia impressa desde o Governo Federal ao conjunto do
País e que tem os efeitos nefastos que verificamos na inflação, no
endividamento externo, no crescimento da pobreza de uma nação tão rica e de tão
escassa distribuição do produto da riqueza produzida principalmente pelos
trabalhadores. A segunda questão é anotar uma contradição da legislação
proposta quando, no art. 1º, fixa que “os estabelecimentos comerciais de
qualquer natureza, localizados em Porto Alegre, ficam com o horário de
funcionamento livre”. Estabelece o parágrafo 2º desse mesmo artigo que há
exceções. De que liberdade se trata? Alguns já a têm pelo Decreto nº 27.048/49,
no art.7º, e outros não a teriam. É da natureza das leis do nosso País
estabelecerem, no seu primeiro artigo, nos preâmbulos, o direito, e, na
continuidade, nos parágrafos, nos incisos, nas alíneas, ir retirando esses
direitos, estabelecendo as exceções. Esta aqui contraria a natureza dessa forma
de legislar no Brasil, e nós temos, desde a primeira Constituição até a da
atualidade, essa rota do legislador, mas as exceções visavam a assegurar e
ampliar direitos. Essa aqui, quando estabelece as exceções, tenta equiparar o
conjunto do mercado na exceção. Então, a lei municipal que não regula horário
do comerciário no seu art. 1º busca equiparar ao regime de exceção estabelecido
pelo decreto o geral. Esse estudo vai-se prolongar para uma situação evidente
de discriminação. Por que se estabeleceu a exceção anteriormente? Porque
algumas coisas de gêneros, de essencialidade, estavam previstas como possíveis
de se enquadrar na exceção - não todas. Aqui se generaliza a exceção a esse
conjunto. Então, o supérfluo é abarcado pela legislação. O não-essencial é abarcado
pela exceção, só que, nesse não-essencial, está a maioria, o conjunto dos
trabalhadores que a lei diz que pretende proteger, mas, no art. 1º, parágrafo
1º, a lei, ao dizer que protege, desatende aquele que, não detendo a
propriedade, só tendo o trabalho, e, portanto, o emprego, ficam à mercê do
empregador, que é o proprietário, ou associado diretamente. Porque, quando
estabelece que é possível porque está condicionado a acordo coletivo, na
natureza do acordo, mesmo acompanhado pela diretoria do sindicato, está à
vontade no local em que se dá o acordo o proprietário de uma loja, que fecha as
portas, reúne a assembléia dos trabalhadores e diz que quer esse acordo. E os
trabalhadores, que só têm o emprego, dizem que não querem. O proprietário abre
as portas, sai esse lote de funcionários, que é assim tratado pelo empregador,
entra outro lote nas bases do acordo proposto. O sindicato não poderá recusar a
assinatura de um convênio que tenha se estabelecido em assembléia localizada e,
assim, se manifestado para acordo.
Quem há de dizer que o acordo não foi legal? Pode não ter sido
legítimo, mesmo forçado pelas condições de excedentes de mão-de-obra existente
da recessão promovida em nosso País. É aqui, talvez, que se encontra a parte
mais injuriosa dessa lei aos trabalhadores, porque, se fosse apenas a
convenção, como estabelecemos no substitutivo, estabelecer-se-ia, desde o
início, uma eqüidade entre as partes Era a direção política dos trabalhadores e
a direção política dos empregadores que estariam em negociação. Isso não se
dará, porque a alternativa que é proposta à convenção coletiva é excludente
desta convenção coletiva. Qual empregador que fará convenção coletiva? Qual
empregador que fará convenção coletiva de sindicato para sindicato se a ele é
possível exercer o acordo de empregador para o conjunto dos empregados? Não
veremos jamais, brasileiros de Porto Alegre, uma convenção coletiva entre o
Sindicato dos Comerciários e o dos Comerciantes nesta Cidade. Veremos a
profusão de acordos. Uma palavra que o Ver. Elói Guimarães nos ensinou aqui
nesta tribuna: “despicienda” a expressão “convenção coletiva” nesta lei,
porque, se todos farão, do ponto de vista de que a lei dá como alternativa, a
convenção coletiva passa a não existir, porque ninguém a usará. Então, a lei
deveria ter, desde o início, como sempre teve na proposta original, apenas
“acordo”, para mostrar a sua feição, essa feição inteira de ter o empregador
todas as condições - como diria o dito popular, “a faca e o queijo na mão”, e
os trabalhadores, “a vontade de comer”. Por isso é que essa desregulamentação
obedece a uma lógica que, talvez, nós não tenhamos notado no geral, que está
impressa na economia brasileira, que provoca a recessão e não vai provocar mais
empregos por abrir aos domingos e nem aumentar o comércio por abrir aos
domingos. Porque diz respeito à natureza do mercado, ao poder aquisitivo, é que
nós mantemos a posição de contrariedade à existência desta lei, que não
regulamenta horário, desregulamenta. Foge o Município de suas prerrogativas,
abre mão o Executivo, o Legislativo, o Município de Porto Alegre de
regulamentar o horário de comércio da Cidade. Em abrindo mão, talvez escape de
suas funções, e por isso concordo com o Ver. Lauro Hagemann de que talvez seja
inorgânico desregulamentar horários e não legislarmos sobre horários. Obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Pela ordem de inscrição, a
palavra com o Ver. Isaac Ainhorn.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, ao apagar das luzes do ano de 1992, nós chegamos, esta Casa
reunida, para a apreciação de uma matéria que se tornou altamente polêmica aqui
nesta Casa e que galvanizou a atenção de todos os segmentos da sociedade de
Porto Alegre e da sociedade rio-grandense, e este assunto também extravasa fronteiras
do nosso Rio Grande conquanto se buscam alternativas em relação à luta contra a
recessão.
Então, nesta oportunidade em que se examina o Veto do Sr. Prefeito ao
Projeto de Lei que faculta o funcionamento do comércio aos domingos, eu não
poderia deixar, como autor desta matéria, de vir aqui discutir, debater essa
temática no momento em que nós cumprimos o nosso papel, quer mantendo o Veto,
quer rejeitando o Veto. E eu acredito hoje na rejeição do Veto. Acredito hoje
que esta Casa, dentro da sua posição coerente em relação a uma votação recente
aqui, vai se manifestar sobre esse assunto.
Alguns argumentos se o Prefeito Municipal... Eu não tinha dúvidas. Eu
pessoalmente não tinha nenhuma dúvida de que o Sr. Prefeito Municipal iria
vetar este Projeto...
O Sr. José Valdir: V. Exª está muito nervoso,
Vereador.
O SR. ISAAC AINHRON: Eu não estou nervoso,
absolutamente, Ver. José Valdir. Eu acho que hoje, aqui, esta Casa cumpre com o
seu papel histórico e um dia alguns segmentos que divergem dessa posição vão-nos
dar razão. Não resistem... Hoje, pela manhã, conversava com setores
sindicalistas e eles me diziam exatamente - pessoas responsáveis no movimento
sindical porto-alegrense - que esse assunto não resiste mais seis meses. O
momento histórico vai fazer com que esses próprios companheiros que hoje
sustentam a luta pelo fechamento do comércio vão reverter a sua posição porque
a própria massa dos comerciários...
O SR. PRESIDENTE: A Mesa dá um único aviso às
galerias: aqueles cidadãos que se pronunciarem serão convidados a se retirarem.
O SR. ISAAC AINHORN: Obrigado, Sr. Presidente. Então, tabus maiores a História
se encarregou de derrubar. Nós não imaginávamos assistir, como assistimos este
ano, à desagregação, como a queda do Muro de Berlim, a desagregação da União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Historicamente estão aí os fatos bem
presentes para todos nós.
Mas vamos examinar agora alguns argumentos que o Sr. Prefeito sustentou
no seu Veto. Primeiro: ele queria uma justificativa para vetar e buscou através
das chamadas audiências públicas. Infelizmente, ele só fez audiência pública
para esse assunto. Não fez audiência pública para aumentar a tarifa do
transporte coletivo, para transformar Porto Alegre na Capital que tem uma das
tarifas mais caras do transporte coletivo; não fez audiência pública para
comprar irregularmente os incineradores do lixo; não fez audiência pública,
agora recentemente, para aumentar o IPTU. Não. Só fez com relação a esse
assunto na exata busca de uma justificativa.
Eu pessoalmente estive ali na audiência pública onde estava o Prefeito
de Porto Alegre e o Vice-Prefeito Tarso Fernando. Ambos estavam ali, com uma
representação, sim...
(Tumulto nas galerias.)
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, o primeiro
argumento da audiência pública, que, infelizmente, eu diria, foi uma audiência
pública restrita, uma vez que abarcou somente um universo de pessoas, sobretudo
da direção e de alguns segmentos do Sindicato dos Comerciários que estiveram
presentes aqui, no Plenário grande desta Casa, num debate com o Sr. Prefeito
Municipal e o Vice-Prefeito... Portanto, Sr. Presidente, nós sentimos a
ausência de um debate e, num determinado momento, quando da discussão e votação
deste Projeto, nós queríamos uma discussão mais ampla e um maior aprofundamento
sobre a questão.
Nós participamos de vários debates em rádio, em televisão e
participamos de enquetes e, em todas essas participações em que estivemos,
sempre venciam por expressiva maioria aqueles que queriam ver o comércio aberto
aos domingos. E digo mais: o segmento que mais foi prejudicado até agora pela
lei de fechamento do comércio aos domingos tem sido o dos pequenos e médios
comerciantes da Cidade de Porto Alegre, e infelizmente, até agora, o Sr.
Prefeito Municipal não se lembrou de levantar a voz em defesa dos pequenos e
médios comerciantes desta Cidade. Preocupou-se agora, sim, em levantar a voz
apenas como argumento, como justificativa para rejeitar o Veto.
O Sr. Edi Morelli: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Só para dizer que o Supermercado Santa Helena, na
Juca Batista, um minimercado que é um tirinha, foi multado em quatro milhões
porque abriu no dia 2 de novembro.
O SR. ISAAC AINHORN: Então, eu gostaria de dizer
que, quando este Vereador apresentou uma emenda ao Projeto no sentido de
assegurar a abertura do comércio da periferia, ferragens, autopeças, o que
aconteceu? O Prefeito vetou! Sob pressão de quem? Do Sindicato dos
Comerciários! Infelizmente, essa que é a realidade. E a Câmara manteve o Veto
exatamente sob pressão desse mesmo sindicato. Naquela época, ninguém lembrou, o
Prefeito Municipal não lembrou de dizer que defendia o pequeno e médio
empresário. Não! Agora é o grande argumento: de que esse comércio vai
prejudicar o pequeno e médio. Não é verdade. O pequeno e o médio saem
beneficiados, até porque eles são muito trabalhadores, e eu conheço dezena de
casos - na Restinga, na Cavalhada, no Passo D’Areia, no Bom Fim, no Sarandi. E
digo mais: a lei ruim ela tem de ser desobedecida; esse é o rumo das leis ruins,
das más leis. Ela tem de ser desobedecida. Essa é a História que tem mostrado
para quem tem uma experiência jurídica, porque ela não é alicerçada nos usos e
nas práticas tradicionais e nas praxes do dia-a-dia, que estabelecem
regramentos para a vida comum. Essa lei ela sistematicamente vem respeitada. E
uma coisa que devemos deixar esclarecida aqui nesta Casa: a Câmara estabeleceu,
naquela lei do domingo, não uma multa. O que está acontecendo é que o decreto
regulamentador, o famigerado decreto regulamentador, ele estabeleceu uma multa
que não há correspondência entre causa e efeito: para a primeira transgressão,
100 URMs para cada pessoa dentro do estabelecimento comercial. Não é apenas
para o empregado, mas também para os proprietários da loja que lá estão. Então,
é um milhão por pessoal. Essa lei é cruel, é desumana, é má, é perversa, e hoje
esta Casa, derrubando o Veto, está restabelecendo a justiça na Cidade de Porto
Alegre e está abrindo mercado de trabalho.
O SR. PRESIDENTE: Inscreve-se o Ver. Nereu
D'Ávila, que cede o seu tempo para o Ver. Isaac Ainhorn, com a anuência dos
Vereadores Airto Ferronato, José Valdir e Wilson Santos.
O SR. ISAAC AINHORN: Agradeço a V. Exª.
(Tumulto nas galerias.)
O SR. PRESIDENTE: Estão suspensos os
trabalhos.
(Suspendem-se os trabalhos às 14h43min.)
O SR. PRESIDENTE (às
14h47min): Vamos
retomar os trabalhos da presente Sessão.
A palavra permanece com o Ver. Isaac Ainhorn, que tem mais dez minutos,
por cedência de tempo do Ver. Nereu D'Ávila.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, nós assistimos aqui a um episódio lamentável de, como bem disse o
Ver. Artur Zanella, racismo explícito. Nós lamentamos profundamente, porque até
aqui tínhamos mantido uma posição de respeito. Nós temos divergências, mas nós
nunca atacamos a cor ou a origem racial de qualquer pessoa. Infelizmente,
insultado por falsas lideranças, se chegou aqui nesta Casa a ódios e
sentimentos de natureza racista. Quero, com profunda mágoa, registrar esse
episódio, porque o que houve aqui foi um “trailler” do que houve na Alemanha da
década de 20. Queria referir isso, porque fui atacado pela presença desses
elementos que insuflaram...
Mas retorno ao tema do Projeto. Eu dizia que, ao contrário do que
afirma o Prefeito Olívio Dutra, os pequenos e médios comerciantes foram as
grandes vítimas da lei que instituiu o fechamento do comércio na Cidade de
Porto Alegre. Quero, por último, fazer um registro em relação ao Veto a duas
questões. Uma quando o Prefeito Municipal diz que a faixa horária aberta do
comércio à disposição do consumidor é bastante ampla. Isso vem em contradição
com tudo aquilo que o Sr. Prefeito Municipal disse até agora. Porque ele diz
que quer a abertura do comércio, desde que seja em acordo entre o sindicato das
categorias profissionais e que eles é que devem se entender a esse respeito. E
disse mais: que não dependia de nós. Aí ele ignorou a lei, porque existe uma
lei que determinou o fechamento do comércio aos domingos. E só esta Casa,
revogando essa lei, é que pode restabelecer a possibilitando da abertura do
comércio aos domingos e com uma questão que para nós, trabalhistas, é
fundamental: o respeito às garantias sociais e trabalhistas dos trabalhadores
desta Cidade. Isto não vamos cansar de afirmar: que, se o sindicato não quiser
ser o fiscal, nós vamos, também, ser agentes fiscalizadores do cumprimento
dessa lei e usaremos esta tribuna também para denunciar aqueles empresários que
não cumprirem, que pressionarem os trabalhadores para trabalharem aos domingos,
sem acordo e sem convenção coletiva de trabalho. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Airto
Ferronato para discutir o PLL nº 198/91 – Veto Total.
O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, gostaria de, numa preliminar, dizer alguma coisa a respeito da
graduação da multa aqui falada pelo Ver. Isaac Ainhorn. Sou fiscal de tributos
e um dos mais graves problemas deste País é a impunidade, porque a multa
compensa em muito o crime neste País. A minha tese é de que temos, sim, de
penalizar os infratores custe o que custar aos infratores. É a minha tese. Com
relação ao Projeto em si, entendo que este País é pobre porque produz, assim
como toda a América Latina, e ricos são a Europa e os Estados Unidos, que consomem.
Dentro dessa linha, neste País é muito pobre aquele que trabalha e muito rico
aquele que goza suas férias em belíssimos países desse mundo privilegiado de
alguns. Portanto, esse é um ponto que devemos refletir inicialmente. Gostaria
de dizer que votei contra a abertura do comércio aos domingos - e cada vez mais
tenho a certeza de que estava muito correto - pelo próprio resultado da
pesquisa efetuada pelo Ibope, porque pergunta mais mal feita do que aquela, com
todo o respeito!!! E, se não chegou a índices bem maiores, entendo que estou
correto nessa minha visão. Quero parabenizar o Ibope pela péssima condução da
pesquisa. Por outro lado, votei contra porque, na minha consciência, eu entendo
que todo cidadão humano deste mundo tem de ter descanso, lazer, convívio
familiar. Disso eu não abro mão sob hipótese nenhuma. É a família a grande
responsável pelo desenvolvimento deste nosso País. Não será nenhum político
iluminado que conduzirá o País a lugar nenhum, até porque, se não levou em
quinhentos anos, não será tão rapidamente que vai levar. É o convívio familiar
o ponto principal da questão. E nós não podemos retirar do convívio familiar,
aos domingos, trezentas mil pessoas, considerando-se as suas famílias, para
ganhar um salário miserável como se paga neste País.
Acompanhando, com todo o cuidado, as discussões que se travaram quando
da votação deste Projeto e posteriormente as discussões que se travaram pela
imprensa, ouvia comparações extraordinárias. Dizia-se que, no Japão, e não sei
mais onde, abre o comércio aos domingos. O que ocorre é que, no Brasil, a
classe trabalhadora ganha muito pouco. Fiz as contas e faço novamente: quem
ganha 150 mil cruzeiros por mês ganha cinco mil cruzeiros por dia. Diz-se que
os 100% é a “salvação da pátria”, a hora-extra dobrada. Mas sair de casa aos
domingos para receber um acréscimo bruto de cinco mil cruzeiros é um fiasco
generalizado, é um deboche. Toda a vez que se querem estabelecer comparações
com outros países, compara-se Brasil/Bélgica para uns e Brasil/Bangladesh para
outros. Também não pode servir esse tipo de raciocínio. Se quisermos modernizar
a economia do País, nós só temos um caminho. Não precisa se preocupar com a
exportação para a Europa, que nos explorou a vida inteira. Nós temos de nos
preocupar com aumento na produção e na renda dos trabalhadores, porque com
renda há consumo, com consumo há produção, com produção há tributo, com tributo
há renda pública, com renda pública há investimentos, e as classes dominantes
deste País não querem isso, porque querem um Brasil/Bélgica para uns tirarem
férias não sei onde e um Brasil/Bangladesh para a maioria do povo brasileiro.
Isso para nós não serve.
Para finalizar o meu raciocínio, volto a dizer o seguinte: eu sou
cristão e católico, acredito no bem e no mal e acredito também no seguinte, com
todo o respeito ao bom velhinho - estamos próximos do Natal; nós temos um Papai
Noel bom e um Papai Noel muito ruim e vejo que a Câmara deve pensar no Papai
Noel bom velhinho. Nós não podemos mandar no dia 25, hoje à noite, um Papai
Noel dos diabos nas casas de setenta mil trabalhadores. É por isso que eu voto
pela manutenção do Veto. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Pela ordem de inscrições,
com a palavra o Ver. José Valdir.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, senhores comerciários, eu não vou repetir, mas apenas referir
alguns argumentos que já estão batidos aqui para discutir o que já está
discutido. Infelizmente, por razões muito estranhas que a vã filosofia não
consegue explicitar, mas consegue adivinhar, a gente já sabe o resultado desse
tipo de votação. E não precisa nem clamor popular. Não vejo nenhum empresário
aqui hoje. Eles estão tão seguros do resultado, que nem vieram aqui. É
segurança, é porque já sabem, inclusive, os votos que têm aqui. Mas eu quero me
referir ao argumento do Ver. Isaac Ainhorn, que gosta de chamar a gente de
“arautos do atraso”, o Ver. Isaac Ainhorn, que, de fato, não pode falar nada em
relação a comerciário e nada em relação ao pequeno comerciante porque, na
verdade, ele é o legítimo defensor do grande comerciante. Porque o que está em
discussão aqui são os interesses dos grandes empresários, e eu tenho recebido
inúmeros telefonemas de pequenos empresários colocando a verdade nessa lei que
está sendo aprovada aqui, nessa lei do Ver. Isaac Ainhorn, preocupados porque
ela vai trazer a ruína. O argumento das vendas? Isso não existe. Só falta o
Ver. Isaac Ainhorn vir dizer nesta tribuna que o culpado da incompetência do
Sr. Aécio, que faliu, foi por causa dos comerciários não trabalharem aos
domingos. Só falta ele vir dizer aqui nesta tribuna. Não é, Ver. Isaac Ainhorn?
Aumento das vendas não se consegue dilatando o horário de trabalho, e temos
empresários arejados que admitem isso e dão declarações. A população não compra
mais não é por demanda reprimida, não é porque tenha dinheiro no bolso. Que bom
que fosse isso, Vereador! Que bom que na minha vila todo o mundo, lá, estivesse
com dinheiro no bolso para comprar e não tivesse horário para comprar! Isso se
resolveria. Não é esse o problema. Também não é o comércio que não é um setor
diretamente produtivo - isso é elementar em matéria de economia - que vai
resolver o problema da crise econômica, que tem outros fatores muito mais
importantes. Então, não existe isto, não existe o aumento do número de
empregos. O que vai acontecer é uma migração das rendas e uma migração dos
empregos, quem sabe pendendo para o lado do desemprego, porque vai falir muito
pequeno empresário que vai colocar muitos comerciários no olho da rua. É claro
que pode aumentar nos “shopping”. Empresários que estão de olho nessa lei
querem a lei não é para abrir o comércio generalizadamente em Porto Alegre,
porque eles não estão interessados nisso. É para abrirem em alguns locais
privilegiados, como nos “shopping”, matar, monopolizar o setor e, quem sabe,
exatamente conseguir uma arma a mais para rebaixar ainda mais os salários
miseráveis que pagam aos comerciários. É isso que vai acontecer no cômputo
geral. No fim a balança vai pender muito mais para o desemprego, Ver. Isaac
Ainhorn, e aí se fala nessa tal de pesquisa, a pesquisa do Ibope mais
manipulada que eu já vi. Porque se sair na rua não precisa pesquisa, perguntar
se a população quer - uma pergunta seca - o comércio aberto nos fins-de-semana
à noite, depois da meia-noite, tem gente que vai querer! Mas, se fizer a
pergunta se também quer os bancos abertos, também vai querer; se fizer a
pergunta se quer os órgãos públicos abertos, vai querer! Agora, se fizer a
pergunta adequada - “você é a favor do trabalho aos domingos, é capaz de
trabalhar aos domingos?” -, a coisa muda. Então, essa pesquisa do Ibope foi a
pesquisa mais manipulada que eu já vi, porque fez uma pergunta à queima-roupa,
uma pergunta manipulada, e, mesmo assim, com esse grau de manipulação, com os
interesses econômicos perpassando pelos meios de comunicação, ainda assim 36%
responderam “não” a essa pergunta manipulada! Essa pesquisa do Ibope não tem
credibilidade, Ver. Isaac Ainhorn, que fala com tanta segurança. Acho isso um desrespeito.
Por mais que eu discorde das direções sindicais, de não ser a minha ala
política, uma coisa, Ver. Isaac Ainhorn, esta Casa tem de aprender: dar o
respeito para a democracia. Se há uma direção no movimento sindical, ela foi
eleita pelos trabalhadores. Não é o Ver. Isaac Ainhorn que vem a essa tribuna
dizer que a maioria dos comerciários é a favor! A direção do sindicato dos
trabalhadores está permanentemente em contato com a sua categoria, e é só o
Ver. Isaac sair e ir às lojas visitar os comerciários que vai ver que isso é
uma grande mentira, não é verdade, tanto que os empresários, todas as vezes que
votamos esse tipo de matéria, fizeram um esforço, tentaram manipular o
trabalhador, tentaram trazer para cá, tentaram impedir que os trabalhadores viessem
para cá quando sentiram que os trabalhadores queriam acompanhar a votação, como
ocorreu na última votação, quando prorrogaram o horário de trabalho, e nunca
conseguiram trazer um número significativo de trabalhadores para respaldar suas
propostas – e hoje nem estão aqui! Isso é a inverdade que o Ver. Isaac Ainhorn
vem colocar desta tribuna.
Quero rebater, também, essa história de modernidade. Dizem que é
moderno trabalhar aos domingos. No início do capitalismo, o velho liberalismo
defendido com a capa de neoliberalismo pelo Ver. Wilson Santos, já defendia
isso. Não tinha horário para ninguém trabalhar, não tinha dia da semana. Quem
conquistou jornada de trabalho, quem conquistou leis mínimas de trabalho, quem
conquistou fim-de-semana foram os trabalhadores. Então, onde é que está a
modernidade? Isso é um retrocesso. Mas mesmo que, nos países do primeiro mundo,
funcionasse, todos os trabalhadores lá, trabalhando, o Ver. Isaac ia dizer que
é mentira isso, mas acontece que lá, em alguns setores, funciona, e com acordo
com movimentos sindicais. O acordo aqui, com os empresários, falaria em dar
mundos e fundos, mas, quando os trabalhadores oferecessem uma proposta
concreta, eles diriam que era muito caro. Não quereriam acordo, porque eles não
querem acordo, porque eles querem usar esta Câmara para fazer leis para
beneficiá-los, porque há os seus Isaacs Ainhorns para fazer esse tipo de lei
contra os trabalhadores. Mesmo que fosse moderno, eu pergunto: é de nós
imitarmos isso? A atividade econômica de forma generalizada, funcionar os sete
dias da semana? Mas é isso que nós queremos? É esse tipo de desenvolvimento que
coloca como valor maior da vida a produção e o consumo, produzir, produzir e
consumir? Se for isso, o Ver. Isaac Ainhorn tem de admitir que nós temos de
importar para o Brasil também o mesmo índice de suicídio e de infelicidade que
existe nos países do primeiro mundo, porque lá as pessoas têm todos os bens
materiais, mas em compensação estão se suicidando, exatamente por colocar como
bem maior o consumo. E essas questões materiais que o Ver. Isaac Ainhorn vem
colocar aqui como sendo o supra-sumo da modernidade? Ver. Isaac Ainhorn, isso é
o atraso. A História vai mostrar, sim. E esse tipo de desenvolvimento nós não
podemos querer para o nosso País. Nós queremos um desenvolvimento que coloque,
acima de tudo, o ser humano, e não esse desenvolvimento desumano, tecnicista,
que coloca a produção e o consumo como sendo as coisas mais importantes da
existência humana e que leva o ser humano à loucura, como nós estamos vendo. O
que na verdade nós estamos julgando, Ver. Isaac Ainhorn, esta Câmara tem de
rever urgentemente, porque está colocando na mão de um pequeno grupo do grande
capital um instrumento poderoso para fazer a monopolização do setor e para ainda
baixar mais o salário dos trabalhadores.
Ver. Isaac Ainhorn, eu sou contra isto, este Projeto do trabalho aos
domingos, porque ele tem um efeito multiplicativo. Amanhã ou depois, nós vamos
querer que os bancos funcionem aos fins-de-semana, que a Câmara funcione. E o
Vereador que levantou a mão foi um dos que votou contra a Câmara trabalhar nos
fins-de-semana. É fácil fazer demagogia.
Somos contra o trabalho nos domingos, porque domingo é para passear,
descansar, passear nos parques, por razões bíblicas e ecológicas. E apresento
uma razão filosófica: domingo é para curtirmos a nossa vida, e não ficarmos, de
forma desvairada, trabalhando ou fazendo compras. Porque é um absurdo o dia do
descanso ser usado para fazer compras. Só uma sociedade desumana, tecnicista,
que coloca esse tipo de questão - o consumismo, a produção e o consumo como
valores maiores da existência -, que pode pregar um absurdo desses, que está
levando a humanidade à infelicidade. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Wilson
Santos para discutir o PLL nº 198/91 – Veto Total.
O SR. WILSON SANTOS: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, vamos colocar desta tribuna uma posição bastante conhecida. Nesse
episódio do funcionamento do comércio, é do conhecimento da Casa, do
conhecimento de todos, que foram oferecidas três propostas. O Ver. Isaac
Ainhorn, no Projeto original, ofereceu a oportunidade de funcionar o comércio
nos domingos que antecedem as datas festivas. O Ver. Leão de Medeiros ofereceu
uma alternativa de funcionamento dos “shoppings” aos domingos. Nós apresentamos
uma proposta, que pela terceira vez foi oferecida a esta Casa, que,
simplesmente, os estabelecimentos comerciais de qualquer natureza, localizados
em Porto Alegre, ficam com o horário livre, inclusive aos domingos. Isso é um
compromisso doutrinário, diga-se bem, e o Ver. José Valdir, que não se encontra
no momento, atacou uma pregação neoliberal – eu tenho rejeitado a palavra “neo”
porque para mim “neo” é mito: 50% e ultra mais ou menos. Eu defendo o
neoliberalismo com uma visão social muito forte, e não somos donos da verdade.
No momento em que nós colocamos essa possibilidade, nós colocamos porque
entendemos que o ser humano está também acima de tudo. Assim como há o ser
humano que trabalha no comércio, há também muitos seres humanos hoje que estão
incluídos no maior sindicato que existe atualmente no Brasil. É um sindicato
sem voz e sem vez, que não tem presidente e nem diretoria, que é o sindicato
dos desempregados. Entendo que o foro contra a recessão e o desemprego que é
liderado pelo Governo Municipal está certo, porque realmente a recessão existe,
o desemprego existe, só que o Prefeito resolveu virar as costas a um projeto
que nós precisamos ver na prática, porque não podemos fazer retornar o tempo da
Inquisição, em que se acusa, julga e condena sem exercitarmos a prática. Nós
queremos o comércio funcionando, até porque ser livre é ser bem-informado, e
nós sabemos que até países do primeiro mundo, como a Inglaterra... Nós não
estamos empregando o que está acontecendo lá. Agora, porque lá em Londres está
acontecendo a desobediência civil, a lei proíbe trabalhar aos domingos e
lojistas abriram as lojas porque lá eles sentiram necessidade pela crise. É
interessante que se diga que, na Inglaterra, bastou aumentar uma pequena
parcela da inflação e, em função de algumas dificuldades, eles entendem que
estão envoltos numa crise, e a saída, inclusive, para oferecer mais emprego foi
a abertura do comércio aos domingos. E a desobediência civil? Era esperada uma
repressão contra os lojistas em Londres, só que lá o governo do Primeiro
Ministro John Major não determinou repressão nenhuma. Ao contrário, anunciou
publicamente que está providenciando na alteração da legislação. Isso aí são
informações que chegam a nós com a maior facilidade, até porque aconteceu há
menos de um mês e está acontecendo em Londres. Nós, aqui no Brasil, depois de
tantas esperanças abortadas, de tantas promessas não-cumpridas, planos
econômicos fracassados, temos uma sociedade que vive o pico da sua desilusão, e
nessa desilusão vive também o pico da sua falta de auto-estima. Nós estamos com
a nossa visão turvada até para encontrarmos uma saída, e aqui, em Porto Alegre,
de maneira honesta, a Câmara de Vereadores, tendo a sensibilidade para saber
qual é o desejo da maioria, resolveu acolher a proposta firmada na doutrina
liberal de facultar o funcionamento do comércio. E a proposta oferecida por nós
foi a que ganhou a maioria desta Casa e passou a ser uma lei aprovada por esta
Casa. E esta criatividade que nós colocamos foi até para conseguir que Porto
Alegre desempenhe a sua vocação turística. Porque nós conversamos e debatemos
também com segmentos do turismo, que sabem que Porto Alegre tem uma elevada
vocação turística e que o turismo só funciona casado com o comércio. E um outro
detalhe de fundamental importância é que a lei maior, a lei que não pode ser
vetada... Se aqui estivesse o Ministro
Rogério Magri, talvez ele fosse dizer que essa lei é inevitável, que é a lei da
oferta e da procura e a lei de uma economia aberta. É a lei que a União
Soviética precisou manter hermeticamente fechada durante setenta anos para
depois descobrir que a saída para a crise, para seus problemas internos, era
abrir a sua economia, era ter uma economia livre, calcada na lei da oferta e da
procura, porque nenhum comerciante vai abrir suas portas para ficarem abertas
às moscas. Só vão abrir se houver interesse, e um detalhe: há alguns pequenos
comerciantes, diga-se de passagem, que também não querem a abertura, e hoje tem
uma matéria de um conceituado jornalista do Rio Grande do Sul, que diz o
seguinte: (Lê.)
“Um detestável e oportunista segmento do comércio porto-alegrense está
botando suas unhas para fora. Como acontece uma luta para abrir o comércio aos
domingos, muitos comerciantes não querem isso, movidos por interesses vários e
respeitáveis. Mas o que não se compreende é que vão até lá a Prefeitura para
dar solidariedade e apoio ao governo municipal na tentativa de evitar a
abertura das lojas no domingo.
E o móvel deste falso alinhamento com o governo do PT é ainda mais
escabroso: temerosos que lojistas concorrentes abram suas portas no domingo,
caso seja aprovado o projeto, inevitavelmente terão que fazê-lo também, por
olho grande, o que os importunará no funcionamento mas os tranquilizará na
ambição.
Daí que erradamente o prefeito Olívio Dutra diz contar com o apoio de
inúmeros comerciantes para seu veto. Não é apoio, é cinismo.
(a) Paulo Sant’Ana.”
Fiz questão de ler esse artigo de hoje apenas para mostrar que ninguém
é dono da verdade. Na democracia existem teses, antíteses, idéias favoráveis, e
o nosso debate é um debate de idéias. O que estamos fazendo nesta Casa é
oferecer o que está dentro do nosso pensamento, o que mais atenda ao conjunto da
coletividade e à maioria da democracia representativa, embora alguns
mal-educados, alguém que não saiba conviver com democracia, que não saiba ouvir
- até porque sei ouvir e, quando ouço, ouço em silêncio - idéias
contraditórias, só que tem de ter a grandeza de saber perder na democracia,
porque esta Câmara, por dezenove votos, entendeu que temos de colocar em
prática uma lei que ninguém pode vetar, que é a lei da oferta e da procura – é
a lei aquela que só abrirá as portas se houver interesse; se não houver
interesse do consumidor, da lei da oferta e da procura, ninguém vai abrir suas
portas às moscas. E vamos colocar na prática para ver se vamos atender ao que
estamos convencidos, que é atender ao maior sindicato do Brasil, hoje um País
em recessão, um país em desemprego, que é o “sindicato dos desempregados”.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O
próximo orador é o Ver. Omar Ferri. V. Exª está com a palavra por dez minutos.
O SR. OMAR FERRI: Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, nesses últimos dias, num exame de consciência, eu
falei comigo mesmo. Nesses últimos dias, eu quis reencontrar a verdadeira
liberdade de votar de acordo com a minha consciência. Nesses últimos dias eu
reencontrei o meu caminho, e hoje estou muito tranqüilo. Eu estou cônscio de
que vou cumprir com as minhas obrigações de Vereador e tenho plena consciência,
tenho convicção profunda e absoluta de que vou votar de acordo com a minha
consciência e que meu voto, acima de tudo e sob o ponto de vista social e
econômico, será um voto abrangente, um voto que, realmente, irá interpretar a
verdadeira realidade das coisas, e para isso eu teria de fazer um retorno na
história das leis que regem essa matéria em nosso País. Para começar, com a Lei
605, de janeiro de 1949, que estabeleceu repouso semanal remunerado,
preferentemente aos domingos, e excepcionou os estabelecimentos de comércio que
podem funcionar e que, nesses últimos quarenta anos, são ainda os mesmos, e que
isso não constitui nenhuma dificuldade de interpretação para todos nós.
A lei seguinte, que
diz respeito ao Município de Porto Alegre, é a Lei Complementar nº 12, que
dispõe sobre o Código de Posturas e que foi sancionada no ano de 1975 e em cujo
art. 33 diz que: (Lê o art. 33 da Lei Complementar.) Depois vem a Constituição
Federal, que, no inciso I do artº. 30 diz: (Lê.) Qual é o interesse local? É
aquele apontado pelo Código de Posturas do Município, é aquele apontado pela
Lei 605 de 1949. E o inciso II, que ninguém repete, diz: (Lê.) Não podemos
esquecer - nós, Vereadores - que o inciso XII do artº. 9 da Lei Orgânica dispõe
que nós temos a competência de ordenar as atividades urbanas, fixando condições
e horários para atendimento ao público. Portanto, não é substância. É horário.
Não é trabalho! É horário! Depois disso tudo, tem o Decreto Federal nº 99.467 e
uma lei do Ver. Clóvis Brum que proíbe, no âmbito do Município de Porto Alegre,
o funcionamento do comércio nos domingos e feriados. Depois de toda essa
parafernália de leis, o Ver. Isaac Ainhorn propôs a esta Casa que o comércio
varejistas de Porto Alegre funcionasse nos domingos que antecedessem as datas
festivas - Natal, Ano-Novo, Dias das Mães, Dia dos Pais, Dia do Avô; sei lá -
dia do raio que o parta também. Muito bem! Eu até estava de acordo com a lei do
Ver. Isaac Ainhorn, mas o Ver. Wilson Santos, mais realista do que o rei,
apresenta um substitutivo permitindo a abertura do comércio geral e total aos
domingos, e o Ver. Isaac Ainhorn, ao invés de defender a sua lei, passou a
defender a do Ver. Wilson Santos. Não entendi isso! Agora, uma coisa eu me
pergunto: legislar a respeito do sacrifício e do trabalho dos outros é uma
coisa muito fácil? Os Vereadores que vêm a esta tribuna e dizem que em favor do
bem público trabalharão em sábados e domingos são cínicos e farisaicos, porque
isso não é verdade. Nós não resistimos mais. Eu estou com “stress” e com ordens
médicas de me afastar de toda atividade, mas estou aqui, com graves problemas
para a minha saúde, com princípio de gastrite. Mas vim aqui porque, de acordo
com a minha consciência, eu me decidi, e me pergunto onde estavam os patrões
quando o comércio internacional fez empobrecer esta pátria. Onde estavam os
patrões, quando os operários e os trabalhadores sem-terra deste País clamavam a
Reforma Agrária? Onde estão os patrões, quando se clama uma reforma bancária e
eles resolvem brigar com os comerciários em vez de brigar com os empresários de
bancos, que estão cobrando 55% de juros ao mês e que, em conseqüência disso, os
nossos estabelecimentos, inclusive redes de comércio, estão indo à concordata
ou à falência? Não brigam com quem têm de brigar e brigam com quem não devem
brigar. E a lei de remessa de lucros, que é a lei que interessa ao povo, e a
lei que disciplina a entrada de capital estrangeiro? E a política monetarista
de pedir emprestado bilhões de dólares, quando houve excesso de petrodólares no
mercado internacional? E o que fizeram os empresários? Pensaram no interesse do
povo brasileiro, do trabalhador, do bancário, do operário, do comerciário? Não.
Pensaram que os dólares seriam a salvação nacional, numa política monetarista
que escravizou a Nação. Na ocasião em que se discutia o sábado inglês eu vim a
esta tribuna e disse que, por uma questão de manter a tradição, de manter os
usos e costumes desta Cidade, porque parte dela comercializava nos sábados à
tarde, eu fui contra o fechamento do comércio, eu fui contra o sábado inglês, e
disse, naquela ocasião, que eu era a favor do fechamento do comércio nos
domingos e feriados. Acho que o Vereador, acima de tudo, deve encontrar os seus
níveis de coerência. Não pode ser instrumento de manipulação de outros
interesses que não sejam os interesses do bem-estar social da coletividade
porto-alegrense. E dizem que esse argumento é pífio, piegas, inócuo e lírico,
mas, enquanto os comerciários vão trabalhar sábados à tarde e domingos, aqueles
que, possivelmente, com seus interesses, manipulam os nossos votos sexta-feira
à tarde já saem para a orla marítima. E eu pergunto: abrir o comércio para quê,
se ele está vazio, com exceção desses três, quatro dias que antecedem o
Ano-Novo? Vender o quê se o próprio Sr. Hughini informou, através da imprensa,
que as vendas caíram 50%? Vender o quê, que tipo de mercadoria? As nossas
consciências, não; o esforço e o sacrifício dos nossos trabalhadores, não. Essa
não é teoria minha, nem tese minha, nem ideologia minha. Isso tudo aprendi com
três grandes líderes que desfraldaram a bandeira do trabalhismo nesta República
e que se chamavam Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola. Minha
homenagem a esses antepassados! E quero declarar de público o meu voto, e vou
votar pela manutenção do Veto do Sr. Prefeito Municipal como medida de ter
justiça. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Pela
ordem de inscrição, a palavra com o Ver. Giovani Gregol.
O SR. GIOVANI GREGOL: Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, esta Casa mais uma vez discute essa pendente
questão da abertura do comércio aos sábados, aos domingos, enfim, nos horários
que não usuais, pois que não tem sido, até agora, felizmente, usual a abertura
do comércio. E os argumentos para aqueles que estão como eu acompanhando a
discussão daqui do Plenário, aqueles comerciários, inclusive aqueles
empresários, as pessoas interessadas no assunto, praticamente que se esgotaram.
Nós notamos isso. Vocês que estão aqui prestigiando, mais uma vez, notaram que
os argumentos se repetem, tantas vezes já discutimos em torno desse assunto.
Mas, às vezes, para aqueles que dizem que o óbvio não deve ser dito eu
discordo. Acho que o mais difícil na vida é descobrirmos o simples e temos
muitas vezes que reprisar, que rebater o óbvio, porque o óbvio não é visto, não
é admitido ou não é reconhecido por muitas cabeças que andam por aí. Eu quero,
no meu discurso, de novo - não vou dizer nenhuma novidade; inclusive eu já
disse, outros companheiros disseram com mais brilhantismo que eu -, voltar aqui
a alguns temas até para responder a alguns Vereadores que têm insistido com
alguns argumentos que ofendem a minha inteligência e a de vocês. Esse argumento
de que a abertura do comércio aos domingos pode significar a vida ou a morte
dos estabelecimentos comerciais da Cidade de Porto Alegre, para só ficar em
Porto Alegre, é um argumento que não cola, que não vinga. Eu acredito que até
alguém possa defender essa questão. Agora, alguns argumentos não deveriam ser
utilizados, porque eles estão totalmente desgastados e esfarrapados e ferem a
nossa inteligência. Porque, entre outros tantos assuntos, são realmente
limitados, e não precisa ser economista. Basta, como eu gosto de dizer, ter
dois neurônios, e um estar ligado ao outro, para se dar conta de que o que é
realmente fator limitador das compras do comércio, ou das vendas, como queiram,
o principal limitador da produção industrial no País é a renda. A população não
compra mais porque não tem renda, não é porque o comércio abre ou deixa de
abrir no domingo, na madrugada, no sábado à tarde. Essa é a questão, meu Deus
do céu! Isso é tão óbvio. E alguns aqui fazem um discurso salvacionista. Dizem
ou dão a entender que inclusive o comércio vai mal. Nós ouvimos isto de vários
empresários nos meios de comunicação - “o comércio vai mal porque aqueles
radicais do Sindicato dos Comerciários, os comerciários, acima de tudo, e o PT
e aqueles comunistas estão, como sempre atrapalhando o progresso do País”. Mas
não fomos nós que endividamos este País! E o País tem progredido nas mãos
deles?! Não fomos nós que contratamos um programa nuclear de mais de dez
bilhões de dólares para construir uma usina nuclear num país onde o povo passa
fome. Não fomos nós que construímos a Transamazônica, que liga o nada a coisa
nenhuma e que - na metade do ano eu estive lá - fica embaixo d’água, fica
intransitável. Não fomos nós. Foram eles, os liberais; foram eles, os
defensores da livre iniciativa. Vejam só o que é o liberalismo no Brasil! Vamos
fazer uma análise. Collor de Mello é tido como um grande representante político
- não vou dizer teórico - do neoliberalismo. Portanto, “neo” ou não, o grande
Presidente liberal desse País... Qual foi o seu primeiro ato como Presidente?
Embargou e meteu a mão no bolso das poupanças de todos os brasileiros, quando o
primeiro credo, o primeiro mandamento dos princípios neoliberais é que o Estado
não deve intervir na economia; deve deixar o mercado, esse ente abstrato,
genérico, que na realidade não existe assim, como os teóricos liberais e
neoliberais o descrevem, regular as relações econômicas: é “laissez-faire,
laissez-passer”. E o Presidente liberal, quando foi apoiado naquela época,
quando ele estava - agora já não apóiam mais, mas naquela época - em que ele
estava bem nas pesquisas, durante a sua campanha, e logo depois, quando os
índices de popularidade eram altos, os tais dos liberais, alguns dos quais se
encontram nesta Casa, apoiaram o tal do neoliberal Collor de Mello e seus
asseclas. A Primeira Dama de Ferro e outros tantos apoiaram. No entanto, eles
foram os primeiros a intervir nas leis da economia, contradizendo totalmente
seu próprio discurso. Aliás, isso, no Brasil, quer dizer a incoerência dos
liberais do Brasil. Já faz parte da sua história, porque o Brasil foi o último
país do mundo que libertou os seus escravos. Vejam bem: isso tem muito a ver
com o que estamos discutindo agora; e os liberais do Brasil, enquanto
discursavam, e o Ver. José Valdir sabe disso, Professor de História como eu,
enquanto os liberais do Brasil faziam a pregação... Liberais eram os
proprietários de escravos, eram os grandes cafeicultores, paulistas, etc.,
proprietários de escravos liberais. Fala-se aqui que na Europa, que em
Londres... Mas pelo amor de Deus! Não brinquem conosco. O operário, o
comerciário, trabalhador do primeiro mundo recebe em dólar; o de Londres recebe
em libra esterlina, que está muito mais valorizado que o dólar. As condições de
trabalho são muito melhores. O direito à lei é muito mais respeitado do que
aqui. Não há como comparar. Fazem comparações totalmente absurdas, e ainda
falam na Índia. Pois o Jornal “Folha de São Paulo” traz uma matéria dando conta
de que a inflação deste ano da Índia é de 40%; no Brasil, é a inflação de um ou
dois meses. Temos que cair na real, porque os salários dos brasileiros, em
média, são muito mais baixos do que os da Índia. Essa é a realidade. E agora
querem que o trabalhador comerciário trabalhe aos domingos, depois de ter
trabalhado durante toda a semana, com horas-extras quase não remuneradas pelos
grandes patriotas, pelos grandes brasileiros - que são não todos, reconheço -
uma grande parte dos empresários de Porto Alegre e do Brasil. Querem que os comerciários
trabalhem aos domingos por um salário ridículo, que é um verdadeiro deboche,
como aqui já se falou. Querem que se trabalhe como no primeiro mundo, mas sem
as mesmas condições de trabalho e salário. Eu defendo a tese - naturalmente
baseado nos mestres que li - de que a Revolução Francesa ainda não chegou ao
Brasil, ela que criou os direitos dos cidadãos, porque, na prática, o Brasil
não tem cidadania. Está aí o massacre das crianças, a forma como os negros, os
índios, as mulheres, os pobres, os velhos são tratados, e uma grande parte da
classe dominante brasileira, das nossas elites, incluindo aí uma parte do nosso
empresariado, inclusive do grande empresariado, tem, lá no fundinho, a
mentalidade dos senhores de engenho, aquela mentalidade de que o trabalhador
tem de trabalhar, de que o negro tem de ir para o pau. Se não gostou, que se
demita, que vá passar fome, e quem fala o contrário é comunista e acabou a
conversa. Esses que pensam assim são os donos do poder. O Raimundo Faoro,
grande autor brasileiro, de direita, escreve toda a semana páginas brilhantes
na “ISTO É” Raimundo Faoro tem
uma obra famosa chamada “Os donos do poder”, onde ele fala exatamente isto: os
donos do poder, no Brasil, e ele não é de esquerda, ele não é do PT nem
comunista, embora tenha declarado que votou no Lula, têm a mentalidade
escravista, que têm de gastar...
O SR. PRESIDENTE (Omar
Ferri):
Ver. Giovani Gregol, a Mesa alerta V. Exª para o fato de que seu tempo já está
esgotado. Para concluir, Vereador!
O SR. GIOVANI GREGOL: Tem de desgastar a
mão-de-obra porque para cada um que não queira receber aquele salário de fome
agora, também, aos domingos, porque existem vinte, trinta desempregados que vêm
do campo e que aceitariam. Temos de dar um basta para isso. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: O próximo inscrito é o Ver.
Edi Morelli.
O SR. EDI MORELLI: Sr. Presidente, em
consideração às pessoas que aguardam a votação deste Projeto desde ontem,
desisto de ocupar meu tempo para que o Projeto possa ser votado o mais breve
possível.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa agradece a
compreensão de V. Exª e passa a palavra ao Ver. Luiz Machado.
O SR. LUIZ MACHADO: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, não ia discutir o Veto que o Sr. Prefeito enviou à Casa, mas a gente
parece que é grudado pelos cabelos para chegar até a tribuna. É véspera de
Natal. Não deveríamos mais estar aqui, hoje, mas temos de estar aqui, quem
sabe, até divergindo de algum companheiro. Tenho para mim que o jogo é capital
e trabalho. Quem não sabe? Falaram vários oradores e é bem certo, e eu não vou
conseguir fazer um discurso ao alcance do discurso do Ver. Omar Ferri, mas
quero dizer, na minha modéstia, que queremos o equilíbrio entre capital e
trabalho. Nós, no momento em que não aceitamos o Veto do Sr. Prefeito, estamos
deixando a balança pender para o lado do capital. Quem é que não sabe que é
isso aí? É isso aí e não há outro argumento sobre abrir domingo, fechar
domingo. A coisa é capital e trabalho. É tão claro que, há cinco dias atrás, o
jornal Zero Hora publicou, com letras que acho que eram quase do tamanho dessas
das faixas escritas pelo sindicato, sobre a abertura, aos domingos, do
comércio. Agora, se vocês analisarem, onde é que está a imprensa, que era para
estar aqui televisionando para todos os lares de trabalhadores e dos
empresários de Porto Alegre, mostrando a nossa cara para o povo gaúcho para que
não tenhamos mais máscara de quem votou a favor e de quem votou contra, de quem
quer abertura e de quem quer fechar o comércio aos domingos, de quem quer que
os trabalhadores não tenham folga e de quem quer que os trabalhadores tenham o
sétimo dia para descanso? Onde está a televisão, onde estão os meios de
comunicação, que deveriam estar aqui televisionando, quem sabe até patrocinados
por alguns empresários - por que não? -, para mostrar a nossa cara lá fora?
Eles estão nos bastidores, estão pegando as entrevistas de representantes de
imprensa que temos aqui dentro. Infelizmente, a vida é assim. E este padeiro
que assume a tribuna diz para vocês isto do fundo do coração. Eu vejo o jogo de
capital e trabalho, nada mais do que isso aí. Eu optei pelo trabalho, porque
cheguei aqui na Câmara desde o balaio de pão, desde o pé descalço, até chegar
aqui na tribuna. E eu não vou mudar o costume de nossa gente, não vou mudar o
hábito do nosso povo trabalhador. Eu não vim aqui para isso. Eu vim aqui para
servir o nosso povo e desse pensamento é que vou compactuar.
Lamentavelmente eu proclamo que a imprensa, quem sabe amanhã, página de
fora do nosso jornal, dará, talvez, destaque a seus interesses. E é lamentável
que, em 1992, um segmento da nossa imprensa, que monopolizou os meios de
comunicações, vai ficar dona de mais uma rede. Sentimos tristeza com isso. Em
maio de 1992 essa rede que monopolizou os meios de comunicação no nosso Estado
fica dona de mais um meio de comunicação. Isso é lamentável. Isso, cada vez
mais, traz tristeza para o nosso coração, porque vejo um discurso lá fora e
outro aqui dentro. O triste é saber que o nosso povo esquece rápido e que não
tem memória. Coloco-me junto com este povo: não temos memória, esquecemos
rápido. Os bandidos de ontem são anjinhos hoje, e os bandidos de hoje serão
anjinhos amanhã. Lamentavelmente é isso.
O Sr. José Valdir: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Estou acompanhando seu pronunciamento e concordando
integralmente. V. Exª chama a atenção na discussão do que está por trás desta
questão, que normalmente não é colocada, é desvirtuada na imprensa. Nós estamos
discutindo se é essencial que todo o comércio funcione aos domingos, porque o
que realmente é essencial já está garantido por lei. Isso funciona para
qualquer atividade econômica. Nem a imprensa é essencial que funcione aos
domingos. Uma parte só fica funcionando, o que é essencial. Não estamos
discutindo que aqueles setores essenciais não tenham de funcionar aos domingos
- isso já está garantido. Não é esclarecido para a população quando se coloca a
questão. Parece que a Câmara agora está fazendo uma coisa que é fechar toda e
qualquer atividade, seja ela essencial ou não. É a mesma confusão que está se
fazendo agora e que se fez quando se votou o sábado inglês, quando se assustou
a população dizendo, às 7h da manhã numa rádio, que a população não teria onde
comprar um pão, o que não é verdade. Está-se desinformando. Na própria imprensa
só funciona o que é essencial.
O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Acho excelente o discurso de V. Exª quando fala em
igualdade entre capital e trabalho e na vida das pessoas. Quero me congratular
com V. Exª porque penso que, como empresário, seus empregados sejam muito mais
aquinhoados em detrimento dos outros empregados que temos na indústria e
comércio. O cumprimento por isso.
O SR. LUIZ MACHADO: Quero agradecer a V. Exª e
quero convidar o Sindicato dos Comerciários, que aqui está presente, para
visitar a minha empresa, que até março de 1992, eles, meus empregados, já sabem
o que vão ganhar, sem dissídio, Vereador. Eu tenho vergonha na cara, V. Exª
pode ter certeza. A média do meu salário é de quatro pisos. Não aceito este
desafio, porque não sou covarde. A média salarial da minha empresa é 180 mil
por mês, coisa que muitos não têm, e uma padaria que tem 46 funcionários que já
têm aumento de 20% em janeiro, 20% em fevereiro e 20% em março. Convido o
Sindicato para visitá-la. Fechamento coletivo porque eu negocio com os meus
empregados, porque fui gente igual a eles, sou gente igual a eles, fui
trabalhador no passado igual a eles, fui pé descalço, Ver. João Dib, eu saí do nada
para chegar a comandar 46 homens. Me orgulho de ser comerciante, me orgulho de
ser pequeno empresário, mas tenho vergonha na cara. Cheguei aqui dentro sem
negociar com empresário.
O Sr. Edi Morelli: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Ver. Luiz Machado, só uma pergunta: a sua empresa
abre aos domingos e feriados?
O SR. LUIZ MACHADO: A minha empresa abre e 70%
são folguistas. Eu quero agradecer aos apartes e dizer a todo o povo que eu só
esperava que esta Sessão de hoje, no momento em que nós acatarmos o Veto ou os
Vereadores derrubarem o Veto do Sr. Prefeito, fosse televisionada para todo o
Estado do Rio Grande para dar exemplos a todos os Municípios e mostrar a nossa
cara: se eu errei, vou pagar o ônus desse erro em 1992; se eu acertar, eu terei
o acerto com o povo. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Vieira
da Cunha. Dez minutos com V. Exª.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, em primeiro lugar, eu não poderia deixar de me manifestar sobre a
famosa pesquisa feita pelo Ibope a respeito do tema que nós estamos discutindo.
Eu acho que toda e qualquer pesquisa nós devemos ver com muita reserva,
analisar com muita reserva. Em primeiro lugar, é bom saber quem encomenda a pesquisa.
É sempre bom termos conhecimento de quem paga a pesquisa e que interesses têm
esses que encomendam e pagam uma pesquisa dessa ordem, que, como nós sabemos,
não é barata. Em segundo lugar, é sempre bom, e a legislação eleitoral vem-se
aperfeiçoando quanto a isso no que diz respeito às pesquisas eleitorais, é bom
analisar com profundidade como os pesquisadores chegam ao resultado. Nesse caso
eu fico imaginando, Ver. Dib, quantos ensaios não fez o Ibope para chegar ao
resultado que chegou, quantas pesquisas, quantas perguntas que ficaram
sigilosas não foram realizadas antes daquele que chegou ao índice, Ver. Jaques
Machado, de 60% favoráveis à abertura, mas, com uma pergunta que só faltava vir
a resposta junto, Ver. José Valdir: “o senhor é a favor da liberação do
comércio desde que a legislação trabalhista seja respeitada, desde que não seja
obrigatória?”. Enfim, colocaram muitas condições até chegar ao resultado que
merecesse a primeira página de um dos principais jornais em circulação no
Estado do Rio Grande do Sul. Então, que fique aqui assinalada a nossa reserva
com esse tipo de procedimento e a nossa manifestação de independência. Cada um
de nós, Vereadores, tem uma grande responsabilidade a respeito dessa matéria, e
eu tenho absoluta convicção de que votarão com a autonomia dos seus respectivos
mandatos e não se deixarão influenciar pelo poder econômico em suas mais
variadas manifestações, principalmente no que diz respeito às pesquisas
encomendadas, como foi essa do Ibope. Quanto aos argumentos, já foram aqui
detalhados. A abertura do comércio face à conjuntura recessiva que nós estamos
vivendo não tem sequer uma justificativa racional. A abertura ela é
indefensável sob todos os pontos de vista haja vista o momento que estamos
vivendo. Ver. José Valdir, veja sob o ponto de vista econômico: como é que
podemos defender a abertura do comércio num momento de recessão? Uma população
que não tem poder aquisitivo para comprar de segunda a sábado muito menos vai
ter para comprar no domingo. Uma população que vive um dos maiores arrochos
salariais da sua história, índices históricos e vergonhosos de desemprego!!! E
nós queremos aqui abrir o comércio aos domingos sob esse falso argumento de que
vai dinamizar a atividade econômica. Vai, isso sim, favorecer os grandes
empresários, aqueles que tiveram condições de adquirir um metro quadrado ali no
“shopping” do Menino Deus, lá no Iguatemi. Esses, sim, poderão eventualmente
ter algum lucro com essa medida. Agora, e o pequeno e o médio comerciante?
Esses estarão num beco sem saída, Ver. Gregol! Porque, se abrir, terá prejuízo.
Se ele abrir as suas portas, terá prejuízo e, se não abrir, correrá o risco de
ter a sua clientela, escassa já, perdida, evadida para esses grandes
conglomerados empresariais. Então, sob o ponto de vista econômico, não há
discussão, mas há outros aspectos.
Sob o ponto de vista cultural, é sabido que o domingo é um dia, seja
por questões culturais, para muitos por questões religiosas, é um dia destinado
ao lazer, é um dia destinado ao convívio familiar. E gostaria de saber, Ver.
José Valdir: quanto a esses 160% que se declararam favoráveis aos trabalhos dos
comerciários, como ficam em relação às suas respectivas profissões? Eu tenho
certeza de que muitos são funcionários públicos, e quero lhes fazer uma
pergunta: eu gostaria de saber a revolução que fariam se o Governador Collares
resolvesse dizer que as repartições públicas no Estado não iriam fechar mais
aos domingos. E se ele resolvesse determinar que as repartições públicas
estaduais deveriam trabalhar os sete dias da semana? Aí, eu gostaria de ver a
posição desses segmentos profissionais que querem ver os comerciários atrás do
balcão aos domingos, enquanto eles estão usufruindo do seu lazer, convivendo
com a sua família. É uma questão de respeito a uma tradição que temos, de
respeito aos direitos desses trabalhadores de conviver com as suas famílias e
ter o direito sagrado ao lazer.
Eu gostaria de referir a questão trabalhista propriamente dita, a
maneira como ficou redigido o Projeto aprovado. Não há nenhuma garantia para os
trabalhadores de respeito aos seus direitos, porque, no momento em que a
condição ficou “acordo” ou “convenção coletiva”, Ver. Isaac, e V. Exª, como
advogado que é, sabe muito bem disso, parece que não quer enxergar quando fala
em acordo ou convenção coletiva V. Exª sabe tão bem ou melhor do que eu que
acordo, na conjuntura que estamos vivendo, na desigualdade da relação
trabalhista entre patrões e empregados, onde diz “acordo”, leia-se “imposição”,
porque ao trabalhador é dada uma opção, sim. Será dada ao comerciário uma
opção, qual seja: trabalha ou vai pra rua. Essa é a grande opção que os
comerciários vão ter senão derrubarmos o Veto do Prefeito Olívio Dutra.
Então, sobre todos os aspectos, não se justifica nós mantermos o Veto,
a não ser por um motivo, e finalizo com ele, este grande motivo, nem sempre
claro na aprovação deste Projeto: a questão é ideológica. Os empresários querem
ter o direito de abrir e fechar as suas portas quando eles bem entenderem, como
donos do seu próprio negócio. Subjacente a isso, está uma ideologia neoliberal,
que tem o trabalhador como objeto do seu lucro, que usa o trabalhador como
objeto descartável, que retira o seu sangue, o seu trabalho e o seu suor e,
quando não serve mais, joga fora! Esse é o verdadeiro fundamento deste Projeto
ideológico: manda quem pode, obedece quem precisa! Esta é a doutrina liberal. E
o fundamento está aí; é o único fundamento. E aí, quem é contra essa ideologia,
como eu sou, quem defende os direitos dos trabalhadores, como eu defendo, só
tem um caminho: votar pela manutenção do Veto. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Antonio
Hohlfeldt): Está
com a palavra o Ver. Gert Schinke.
O SR. GERT SCHINKE: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, companheiros comerciários, que aqui estão nos assistindo, a mim
parece fácil defender este Veto. Este é um veto de fácil defesa, não porque
estaríamos dando um péssimo presente de Natal aos comerciários, e acho
importante dizer que o Papai Noel que o Ver. Airto Ferronato aqui simbolizou,
caso seja rejeitado este Veto aqui, ele estará correto em criar esse
simbolismo. Na verdade, o Natal que agora nós poderíamos dar aos comerciários
seria a garantia de que eles não precisassem trabalhar aos domingos, porque
isso, o trabalho no domingo, surgiu não porque a Bíblia escreveu que no sétimo
dia tinha que descansar. O não trabalho no domingo surgiu porque o capitalismo
tem que reproduzir a força de trabalho e, se ele não concede um dia de folga,
periodicamente, durante seis dias, as pessoas não têm condições de trabalhar,
elas entram em “stress”. É sobre essa ótica que o capitalismo concede um dia de
folga depois de seis dias de trabalho. Não é porque a Bíblia consagrou, e as
religiões cristãs assim propagam, que no domingo é o sétimo dia porque é o dia
que Deus disse que o homem deveria descansar depois de ter feito o mundo. O
capitalismo é que estabeleceu o descanso no dia da semana e, coincidentemente,
passou a ser o domingo também. Aliás, fazer as pessoas trabalharem aos domingos,
para a maior parte dos setores da economia, é um péssimo negócio. Porque só é
econômico, Ver. Vieira da Cunha, que aqui brilhantemente colocou uma série de
pensamentos, que assino em baixo, só é econômico se a economia de escala
permite o emprego, a remuneração de 100% na hora que é feita nos dias de
feriado, fim- de-semana, etc. Se isso é antieconômico não é negócio. E para
qual setor é negócio economicamente? É negócio para um armazém, para uma
ferragem? É evidente que não é negócio, porque não existe, na economia de
escala desses estabelecimentos, o resultado econômico suficiente para que isso
seja rendimento lucrativo. É por isso que para os micro e médio empresários,
que aqui já se manifestaram através de documento que foi distribuído aos Vereadores,
ao Prefeito Municipal, inclusive naquela audiência que foi feita na Prefeitura,
se manifestaram contra a abertura do comércio aos domingos. A quem interessa
então a abertura do comércio aos domingos? Parece que estamos “chovendo no
molhado”, mas é evidente, companheiros, que isso só interessa aos grandes
empresário do comércio nesta Cidade, e em todo o mundo é assim. E é uma
falácia, como eu já tinha dito no pronunciamento anterior quando se votou este
Projeto, é uma falácia e uma mentira se dizer que as grandes metrópoles do
mundo abrem o comércio aos domingos. É uma mentira. O que abre são os
botequinhos que vendem filmes para os turistas, que vendem cartão portal. É
isso que abre, mas colocado pelos empresários que a abertura do comércio no
domingo é para incrementar o turismo na Cidade. Mas que falácia, que
barbaridade! Isso de gente que anualmente vai para o Exterior, vai pelo mundo
como ninguém e vem aqui querer nos pregar essa, Ver. João Dib, é demais! Como
se a gente também não tenha dado umas viradinhas por aí, não tenha saído do
Brasil e visto como é isso nos Estados Unidos e na Europa. Então, essas
mentiras, que inclusive os meios de comunicação se prestam para divulgar, para
confundir a opinião pública, nós temos de botar na lata de lixo. Nós temos que
denunciar.
O Sr. José Valdir: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Essa do turismo é a maior piada que já vi. Eu me
imagino se vou fazer turismo. A não ser os turistas que estão preocupados em
pegar o ônibus perto da Prefeitura, ir ao Paraguai e depois revenderem o que
compraram... Porque turista que é turista não vai à Argentina visitar um
“shopping”, comprar uma calça Lee. Essa é mais uma falácia, uma mentira que
querem passar de contrabando na argumentação. Quero dizer, Ver. Gert Schinke,
aproveitando, que esta Câmara, para ser coerente, se derrubar o Veto do
Prefeito, vai ter que começar a fazer campanha para a atividade econômica de
forma generalizada abrir, porque nós vamos ficar sem referência alguma do que é
essencial.
O SR. GERT SCHINKE: Há determinados setores da
indústria e das atividades primárias, pelas suas necessidades próprias e
específicas, que trabalham em turno, como o Pólo Petroquímico, como os grandes
empreendimentos industriais. Pela sua forma de produção, são obrigados a manter
linha de produção seqüencial. Isso não tem nada que ver com a obrigatoriedade
de manter o comércio aberto sempre. Isso não tem nada que ver. Isso é confundir
a opinião pública. Mas mais: sabem por que esses grandes empresários estão interessados
na abertura do comércio? Vocês já viram, companheiros, aquela figurinha do
grande tubarão que vai engolindo o tubarão menor na frente e depois o peixinho
pequeno. Pois é isso, exatamente, o mecanismo do capitalismo, da concentração
de capital. É o grande supermercado que sucateia o armazém da esquina, que,
assim que acaba, acaba desempregando as pessoas. O supermercado desloca pelo
mecanismo de concentração de capital, desloca o armazém e o botequinho; o
“shopping” desloca as lojas, acaba com as lojas nos bairros, onde os
trabalhadores estão muito mais próximos, onde há uma negociação direta com os
donos. Num “shopping” não há negociação nenhum. Aliás, eu diria mais: o
“shopping” é um elemento de frustração para o povo, porque os trabalhadores sem
renda, Ver. Elói Guimarães, entram num “shopping” e saem frustrados. Eles não
têm o que comprar dentro de um “shopping”, essa é que é a realidade do nosso
povo. Eu fico pasmo vendo aquelas levas que chegam com os T1, descarregando
aquela montoeira de povaréu para visitar o “shopping”. Povo até maltrapilho,
povo com chinelo de dedo, vai comprar o quê num “shopping”? Eu pergunto. Vai
olhar o “shopping”, vai ficar fantasiando e vai sair de lá frustrado, porque as
pessoas não têm dinheiro. O que comprar dentro de um “shopping”? Essa que é a
realidade. Aqui estão querendo confundir a opinião pública. São essas coisas
que me levam a defender o Veto.
Sobre pesquisa, e eu queria concluir (estou “chovendo no molhado”),
cada um faz a pesquisa conforme o seu interesse. E essas pesquisas,
sinceramente, a maneira pela qual o Prefeito Municipal se comportou na consulta
foi mais que correta. Por quê? Porque respeitou as associações organizadas na
nossa Cidade, respeitou o sindicato organizado, respeitou a sociedade civil
organizada que se manifestou democraticamente, e lá não estavam os empresários
para se manifestarem. Eles se manifestam através de pesquisas manipuladas. É
isso que eu queria deixar e um Feliz Natal para os companheiros. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Não há mais oradores
inscritos para discutir. Está encerrada a discussão. Para encaminhar, pelo PFL,
tem a palavra o Ver. Artur Zanella.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, recordando, eu diria que,
na votação do ano passado, eu votei contra o sábado inglês e a favor do
fechamento do comércio nos domingos. Por sinal, não saiu nenhum cartaz naquela
época, em lugar nenhum, com a minha foto dizendo que eu tinha votado a favor do
fechamento do comércio aos domingos, como saiu depois, quando votei a favor da
abertura. Mas dizia que, quando votei a favor do fechamento, não imaginava que
os pequenos comerciantes, que as pequenas lojas fossem fechadas. E posso dizer
quais são elas. Basta ver o que aconteceu ontem, quais as lojas que foram
multadas. Tem a Loja Dunga, mais uma loja da Restinga, mais o fechamento do
Tingão, dos Irmãos Ribeiro, do Adroaldo, na Restinga, do ABC, a tentativa de
fechamento da CEASA, inclusive da Feira de Material Escolar, que a própria Prefeitura
estava realizando no Ginásio Tesourinha. Então, eu diria que os que foram
multados foram todos do comércio de pequeno porte, como a Livraria Papyros, e
uma outra que fechou. Por isso, a informação que corre, de que os pequenos não
querem abrir, parece-me que peca pela realidade, porque os multados foram
exatamente os pequenos. Isso eu disse diversas vezes aos representantes dos
comerciários, que aquele não era o espírito da coisa, não era fechar o comércio
da Restinga como fechou, como fechou a firma que atendia os automóveis aos
domingos, a Gauchacar. Quando se fecha a venda de loja, que tradicionalmente
aos domingos abria, no caso uma loja de automóveis, ao mesmo tempo se permite
que as feiras estejam todas abertas nesta Cidade, como a feira do automóvel, no
Big Shop, a feira do automóvel do Zottis, aquela do Colégio lá do IAPI. Então,
Sr. Presidente, eu queria colocar essa questão e, em segundo lugar, dizer que
eu era um dos que acreditava no diálogo e que o diálogo levasse a alguma coisa.
Quando vi a minha fotografia num cartaz espalhado por toda esta Cidade... Não
me lembro de ter visto essa fotografia quando votei a favor do fechamento; não
me lembro de ter visto essa fotografia quando apresentei o projeto do café com
leite; não me lembro de ter visto a fotografia em lugar nenhum. Quando vi, e
acho que isso merece uma análise mais profunda, quando vi há poucos minutos uma
afirmação de que o Hitler havia esquecido de matar todos os judeus, afirmação
que se referia ao Ver. Isaac Ainhorn, com quem muita gente concorda e outros
discordam, temo por aquele diálogo que é pregado. O que ouvi ontem, numa rádio,
com o Ver. Wilson Santos, que estava debatendo, e naquela baixaria - com todo o
respeito - em que se transformou todo o debate em que dizia que havia conversado
com o lojista fulano e beltrano para ser acusado de ser um títere das lojas e
dos representantes de lojas. Tenho a certeza, Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
de que não vai abrir todo o comércio, mas acho que é uma tentativa, numa época
tão difícil da nossa vida, de buscar aumentar a circulação da riqueza e
aumentar o número de empregos. Pode ser que estejamos errados. Esta Casa tomou
uma decisão. Vai tomar uma decisão hoje, que não sei qual será, mas penso que
temos de participar. Não gostaria, Sr. Presidente, que o diálogo se
transformasse numa ação judicial como a que estou encaminhando contra a CGT a
respeito daquele cartaz. Não é esse o diálogo que quero. E este é o meu
posicionamento hoje: vou votar contra o Veto do Sr. Prefeito Municipal. Nada
daquilo que ele disse ali reflete, até, a sua própria convicção. Ouvi diversas
vezes o Sr. Prefeito Municipal dizendo que, bem regulamentado, ele não era
contra a abertura aos domingos. Levou todo o tempo possível e imaginável -
encerro agora, Sr. Presidente - para vir com um veto, com todo o respeito, de
uma pobreza de justificativa terrível.
Vou votar conscientemente, como sempre votei, independentemente de
qualquer coisa, e estou aberto a, isso sim, um verdadeiro diálogo, mas sem -
por favor, atirem fora o cartaz - aquelas palavras que ouvi hoje, racistas, de
mau caráter, contra o Ver. Isaac Ainhorn, com quem, às vezes, concordo, a maior
parte das vezes não concordo, mas aquilo me doeu. Me doeu a alma e me doeu o
coração.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encaminha pelo PT o Ver.
José Valdir.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, acho que esta Câmara hoje tem a oportunidade, talvez derradeira, de
rever um equívoco, rever um equívoco que está se tornando cada dia mais evidente.
Esta Câmara tem se dobrado aos interesses do “lobby” de um pequeno grupo de
empresários do setor do comércio que, agora está provado, não representa nem a
unanimidade, como foi, inclusive, lido aqui, desta tribuna pelo próprio Ver.
Wilson Santos. Nem a totalidade dos comerciantes quer abrir o comércio nos
fins-de-semana. Está provado cada dia mais, inclusive com as falências, com as
concordatas que estão colocadas aí, que a questão não é se tem que dilatar o
horário. A questão hoje da dificuldade do comércio é toda a questão da crise
econômica que estamos passando. Então, está evidente! Está evidente que a
questão não é abrir mais emprego. Não estão preocupados porque, na verdade, o
que vamos ver é uma quebradeira geral dos pequenos comerciários e, no máximo,
vão se equilibrar os empregos perdidos pelos setores do pequeno comerciante com
os novos empregos abertos pelo grupo do grande capital ligado aos “shoppings”.
No máximo, vai empatar. Então, não vai abrir novos empregos.
O que está em discussão, aqui, é se esta Câmara, que aprovou a lei, vai
novamente desaprovar essa lei, se dobrar a um pequeno grupo de empresários que,
a esta hora, já está curtindo o Natal antecipadamente, provavelmente, e
empresários que querem abrir o comércio nos fins-de-semana, mas que sabem que
não serão eles que abrirão e fecharão as portas de lojas. Então, é isso que
está em discussão. É essencial que esse setor, o setor de lojas, funcione nos
fins-de-semana, funcione aos domingos ou não, porque a discussão daquilo que é
essencial já está garantida. Não está em discussão se as padarias, se as
funerárias, se aqueles setores essenciais do comércio têm de ficar abertos. Não
está em discussão nesta Casa porque já está garantido em lei federal. O que
está em discussão é se nós vamos abrir um precedente sério para que a atividade
econômica, de forma generalizada, de forma que é uma verdadeira loucura, vai
começar a ficar aberta a bel-prazer dos empresários, se nós vamos botar nas
mãos dos empresários um poder a mais do que eles já têm para fazer com que os
grandes empresários, que dizem defender a concorrência, mas que na verdade
funcionam pela lógica do capital, que não é a concorrência, e que é um
monopólio, passem a monopolizar o setor e passem a dispor, nas suas mãos de um
instrumento ainda mais poderoso para rebaixar os salários e fazer uso de uma
coisa muito triste. Nós hoje estamos com uma situação de miséria e de
desemprego, e é muito fácil fazer como os empresários: dizer que vão dar
empregos e conseguir um número de adesão da população, porque a população está
desesperada. Então, esse tipo de demagogia que os empresários estão fazendo a
esta Casa, esta Casa não pode, de maneira nenhuma, avalizar. Então, é a
oportunidade derradeira desta Casa rever um equívoco e recuperar perante a
sociedade um pouco daquela dignidade que perdeu. Porque abriu uma série de
possibilidades de audiência pública - inclusive eu estava aqui e o Vereador
reclamou há pouco que só estavam os comerciários. Por que os empresários não
vieram? Porque os empresários são chamados para discutir e não vêm, porque os
grandes empresários têm os meios de comunicação. O Vereador que me antecedeu -
o Ver. Artur Zanella -, preocupado com sua foto... Ver. Zanella, os que
votaram, e principalmente quem apresentou o projeto do sábado inglês, foram
malhados durante uma semana, das 5 horas ao meio-dia, sem possibilidades de se
defender, com o Sr. Rogério Mendelsky me chamando de professorzinho vileiro de
história e tudo que é tipo de baixaria, e não pude me defender. Foi dito isso
no rádio. Tenho gravado.
Então, Vereador, é democrático os professores se manifestarem na rua e
dizer como votaram. Se a imprensa não divulga, é democrático que o sindicato
faça a divulgação de quem votou e como votou. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Vicente
Dutra para encaminhar.
O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, apenas um esclarecimento para aqueles que sabem que estou vinculado
à Igreja Católica, assim como está o Ver. Ervino Besson.
Recebi manifestação em um jornal do Sindicato dos Comerciários que
registra a opinião de importantes setores da Igreja, inclusive de um grande e
particular amigo, uma pessoa que respeito muito, que é Dom Altamiro Rossato,
atual bispo da Arquidiocese de Porto Alegre. Vi também a opinião de outros
setores da Igreja. Vi que faltavam alguns outros setores de igrejas cristãs e
também de igrejas da seita ortodoxa, judaísmo, que adota o sábado como dia de
descanso.
Entretanto, quero dizer aos senhores comerciários, com todo o respeito,
que essa posição não é uma posição fechada da Igreja. Não existe nenhuma carta,
nenhuma encíclica formal da Igreja em matéria de abertura ou fechamento de
comércio aos domingos. É uma matéria livre.
Tentei falar com D. Rossato, e ontem ele não estava em Porto Alegre. No domingo, estive na ordenação de um padre. Estava lá o Ver. Ervino Besson, mais vinte padres, e nenhum deles se manifestou a respeito desse assunto, sabendo que íamos votar nessa semana aqui. Não há posição. Acho que o domingo tem de ser preservado. Acho que é importante a família poder conviver, mas acho que um bem maior a ser protegido, nesta época de recessão e desemprego, é propiciar mais empregos. Sei que há estatística dos empresários, que falam na abertura de oito mil novos empregos. Dizem que é exagerado. Mas que abram com mil ou quinhentos empregos a possibilidade de abertura aos domingos! São mais quinhentas ou mil famílias, porque não há nada mais constrangedor para nós, Vereadores, do que receber aqui os pais desempregados em busca de um dinheirinho para dar uma comida melhor para os seus filhos. Acima do descanso, que é importante, acima da convivência da família, mais importante do que tudo é a manutenção da sua própria família através do emprego. Sou tão convicto de que essa abertura vai propiciar quinhentos empregos, que eu afasto, sim, porque isso não é a posição fechada da Igreja. Posição fechada da Igreja é o aborto, que esta Casa instituiu na Lei Orgânica. A família que foi varrida da Lei Orgânica e esses setores estão muito insinuados através do “Jornal do Comércio”, pois que não vieram aqui defender a família, defender a posição contrária ao aborto, que foi introduzido, infelizmente, na Lei Orgânica.
Dirijo-me particularmente ao Ver. José Valdir, que, num aparte ao Ver.
Gert Schinke, falava que a Cidade iria ser uma atração turística, mas que o
turismo é feito por aqueles que vão ao Paraguai. Esquece S. Exª de dizer que
quem vai ao Paraguai trazer muamba são chefes de famílias, donas-de-casa que
sacrificam os fins-de-semana para buscar a sua muamba e enriquecer com divisas
o Paraguai e depois vendê-la aqui sem impostos. Isso é uma burrice que estamos
proporcionando. Por quê? Porque falta emprego. Como não tem emprego, pega um
ônibus com sacrifício. Não é verdade? Quantas cambalacheiras percorrem aqui
esta Casa que vocês conhecem? Fazem esse trajeto no fim-de-semana porque,
durante a semana, estão vendendo aqui. Só com um detalhe: esse dinheiro não
paga imposto e ajuda a tirar dinheiro do Brasil. Essa é a pura verdade, e,
diga-se de passagem, dignidade, Ver. José Valdir, é cumprir acordo, não é
manter uma posição além da dignidade. Eu conclamo o pessoal do PT para que use
a sua dignidade para cumprir aquilo que foi firmado em novembro do ano passado
e reafirmado no dia 11. Isso, sim, é que é dignidade e que vai demonstrar bem
alto o quanto é o valor, a dignidade e a finalidade do cumprimento do acordo.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Airto
Ferronato para encaminhar.
O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, senhoras e senhores aqui presentes, eu me inscrevi para encaminhar
a partir do momento em que analisava e ouvia atentamente o discurso do Ver.
Vicente Dutra. E o Ver. Vicente Dutra faz algumas comparações e algumas
colocações a respeito da Igreja Católica, que ele se diz seguidor, e eu também,
dessa mesma religião, com assiduidade. E aí se tentava dizer se o problema da
Igreja tem ou não tem unanimidade etc., ou não. E mais: que, na verdade, o bem
maior é o aumento de emprego. Pois eu acho, então, e V. Exª dizia que mudaria o
voto se encontrasse um caminho para aumentar emprego em Porto Alegre,
particularmente, que essa lei não vai aumentar emprego; vai é demitir gente.
Então, o que nós devemos fazer, Vereador? A solução mágica é a seguinte:
aceitamos o Veto, deixamos que os sindicatos negociem e façam o seguinte - e
disso eu entendo: nós não temos a iniciativa de projetos que criem empregos em
Porto Alegre nesses termos. Pois que os sindicatos passem a negociar! E, se
fala tão mal do sindicato - o Sindicato dos Comerciários é competente sim,
senhor -, faça com que os sindicatos dos dois, comerciantes e comerciários,
busquem acordos para colocar novas pessoas a trabalharem no domingo.
Outro aspecto que quero deixar relacionado é o seguinte: o Ver. Artur
Zanella também está preocupado com relação ao problema do panfleto. Eu
aproveitaria a oportunidade para pedir ao Vereador que encaminhe, junto com o
processo na Justiça, contra esses jornalistas que disseram um monte de
barbaridade, alguns sem saber o que estavam dizendo. Um deles, inclusive, disse
que não me conhecia. Eu não estou preocupado se me conhecem ou não, porque eu
voto segundo minha consciência. Então, já aproveitamos e votamos tudo junto
para não me chamarem de atrasado, porque de atrasado eu não tenho nada - sou
muito adiantado por sinal.
Para finalizar, quero dizer o que disse inicialmente. Estamos no dia 24
de dezembro, às 16h35min. Vamos evitar, Srs. Vereadores, de dar o Papai Noel
dos diabos para setenta mil comerciários e seus familiares. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Não havendo mais inscritos,
entramos no período de votação.
Solicito ao Sr. Secretário que proceda à chamada nominal dos Srs.
Vereadores para a votação.
O SR. SECRETÁRIO: (Procede à chamada e colhe
os votos dos Srs. Vereadores.) Sr. Presidente, 19 Srs. Vereadores votaram SIM,
13 Srs. Vereadores votaram NÃO.
O SR. PRESIDENTE: APROVADO o PLL nº 198/91 e rejeitado
o Veto Total a ele aposto.
(Votaram SIM os Vereadores Artur Zanella, Cyro Martini, Dilamar Machado, Edi Morelli, Elói Guimarães, Ervino Besson, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, João Dib, Leão de Medeiros, Letícia Arruda, Mano José, Nelson Castan, Nereu D'Ávila, Vicente Dutra, Wilson Santos, Wilton Araújo, João Bosco e Luiz Braz. Votaram NÃO os Vereadores Airto Ferronato, Antonio Hohlfeldt, Décio Schauren, Gert Schinke, Giovani Gregol, João Motta, José Alvarenga, José Valdir, Lauro Hagemann, Leão de Medeiros, Omar Ferri, Adroaldo Corrêa e Vieira da Cunha.)
(Tumulto no Plenário.)
O SR. PRESIDENTE: A Mesa suspende os
trabalhos.
(Suspendem-se os trabalhos às 16h41min.)
O SR. PRESIDENTE (às 16h48min): Srs. Vereadores, estamos encerrando a presente
Sessão na tarde de hoje, convocando os Srs. Vereadores para a prorrogação da
Sessão Extraordinária da quinta e sexta-feira, com a mesma matéria dos dois
últimos editais, incluindo duas renovações de votação, além dos projetos
remanescentes.
A Mesa apregoa
Requerimento do Ver. Artur Zanella, que requer a constituição de uma Comissão
Externa para acompanhar a liberação de documentos do Governo do Estado, tendo
em vista a existência de documentos relacionados com o Município e Vereadores
de Porto Alegre. A matéria pode interessar aos Vereadores. Por isso apregoamos
para depois definir a Comissão Externa.
O SR. WILSON SANTOS (Questão de Ordem): Quero que seja consultada a Auditoria e a Assessoria
sobre a dispensa dessa remessa das 48 horas do Veto para o Prefeito se
manifestar para que seja promulgado pela Mesa.
O SR. PRESIDENTE: A
parte jurídica já está providenciada pela Mesa, com todas as assinaturas
necessárias, mas lembraria que a lei vige após sua publicação. Portanto,
dependemos, exclusivamente, da publicação no Diário Oficial, quando circular,
nos prazos que forem definidos.
O SR. NEREU D’ÁVILA:
Sr. Presidente, neste final de 24/12, em nome da Bancada do PDT, queremos
agradecer, especialmente, a dedicação do funcionalismo da Câmara de Vereadores
de Porto Alegre, aos Vereadores em geral, e desejar a todos um Feliz Natal
apesar de todo cansaço.
O SR. JOÃO DIB: Sr.
Presidente, a Bancada do PDS agradece o trabalho dos servidores não só deste
dia, mas de todo o ano, e o nosso respeito é permanente aos servidores da Casa,
aos demais Vereadores, e a todos desejamos saúde, sucesso, paz e felicidade.
O SR. PRESIDENTE: Obrigado,
Ver. João Dib. Ver. Luiz Braz.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr.
Presidente, em nome da Bancada do PTB, aproveitamos a oportunidade para
agradecer a todos os funcionários, agradecer pelo desempenho de seus trabalhos
durante este ano e a todos os nossos colegas Vereadores, desejando um Feliz
Natal.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente, em nome da Bancada do PT, gostaria de traduzir a
esperança de que o ano de 1992 seja um ano fértil aos trabalhadores e,
principalmente, aos que nos acompanham diariamente. Tenham em nós o respeito e
o carinho de sempre.
O SR. PRESIDENTE: Ver.
Adroaldo Correa, temos um pedido de licença de saúde do Ver. Clóvis. Só não
votamos hoje por entendermos dispensável a votação porque não mudaria em nada a
situação. Vamos votar esse pedido na quinta-feira, logo na abertura.
Com a palavra o
Ver. Lauro Hagemann.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, eu queria
também estender aos funcionários e aos demais Vereadores da Casa os
agradecimentos por nos terem aturado até esta hora, na véspera de Natal. Desejo
a todos que o resto do dia de hoje transcorra com total tranqüilidade e paz.
O SR. PRESIDENTE: Obrigado, Ver. Lauro
Hagemann.
Srs. Vereadores, a Mesa agradece também aos componentes da Mesa e a
todas as suas assessorias.
(Levanta-se a Sessão às 16h52min.)
* * * * *